La tradición transfigurada: el Francisco de Asis de Leonardo Boff
DOI:
https://doi.org/10.53439/revitin.2022.1.08Palavras-chave:
Leonardo Boff, Teologia da Libertação, Intelectuais católicos, Francisco de AssisResumo
Propõe-se aqui análise da imagem de Francisco de Assis construída, em conjuntura bastante tensa, pelo teólogo brasileiro Leonardo Boff (n. 1938), Trata-se de discutir como, em meados da década de 1980, o ainda frade franciscano Boff respondeu às sanções disciplinares a ele impostas pela Santa Sé, reação expressa no livro Francisco de Assis: a saudade do Paraíso. Obra escrita e publicada em 1985, durante o chamado “silêncio obsequioso” ao qual Frei Boff foi submetido por Roma, devido a supostos desvios doutrinários contidos na obra Igreja, Carisma e Poder, lançada anos antes e marco da Teologia da Libertação latino-americana.
Assim, em contexto caracterizado pela adversidade, Leonardo Boff – não apenas impedido de dar declarações públicas, também deposto de sua cátedra universitária e removido da direção da maior editora católica do país – redigiu e fez publicar o acima mencionado Francisco de Assis: a saudade do Paraíso. À primeira vista, o livro apenas revisita a conhecida biografia de um dos mais admirados santos da Igreja latina, tanto no Brasil como no mundo, recepção positiva essa verificada entre crentes e não crentes. Contudo, a exposição proposta por Boff vai além da mera celebração da multissecular legenda associada a Francisco de Assis. Inspirado nas fontes franciscanas mais primitivas, o frade brasileiro apresenta o santo medieval como ícone da Teologia da Libertação, cristão paradigmático para nosso tempo e patrono das causas populares. Em outras palavras: Frei Leonardo Boff, no livro em lume, valeu-se de episódios registrados na canônica franciscana – a milagrosa revelação divina na capela de São Damião; a opção radical de Francisco pela pobreza e seu trabalho assistencial junto aos leprosos; a relação mística com Clara di Offreduccio, de família nobre e desejosa de viver na simplicidade; o “Sermão aos Pássaros”; a criação do presépio, em Greccio; a recepção dos estigmas, no monte Alverne – para dar ao Assisense e ao movimento por ele originado significações diversas de leituras piedosas e românticas tão comumente associadas a Francisco.
Resulta daí que, interpretando o Poverello por intermédio dos ideais cristãos liberacionistas, Boff contestou seus adversários, confirmando igualmente sua teologia militante. Por fim, em Francisco de Assis: a saudade do Paraíso, Leonardo Boff proclamou projeto de oposição à ordem estabelecida no Brasil e crítico em relação à organização hierárquica da Igreja Católica.